Itapuã sempre ocupou um lugar especial no imaginário soteropolitano. Cantado em versos, músicas e memórias que atravessam gerações, o bairro reúne símbolos que fazem parte da identidade afetiva da cidade, do farol às praias, das tradições antigas às rodas culturais que persistem no tempo. Foi nesse cenário que o Parque Metropolitano do Abaeté recebeu, ontem, o evento Viver o Abaeté – Encanto e Memória, promovido pelo Governo do Estado, por meio da Setur-BA, com apoio do Inema e participação das comunidades do entorno.
A programação levou ao parque apresentações do Malê Debalê e das Ganhadeiras de Itapuã, feira de artesanato, desfile de moda e ações de educação ambiental, reunindo moradores, turistas e representantes do trade turístico.
Quem circulou pelo Abaeté encontrou um parque visivelmente mais organizado após as intervenções recentes. Passarelas recuperadas, iluminação reforçada e áreas de convivência revitalizadas ajudaram a devolver ao espaço uma sensação de cuidado e segurança. Uma moradora que caminhava ao redor da lagoa resumiu o sentimento de muitos visitantes: “A gente voltou a ter orgulho do Abaeté. Está mais cuidado e com movimento de novo”, comentou Augusto Neves, morador do bairro .
Outro frequentador, José Cesar de Oliveira, comentou que as melhorias devolvem o hábito de levar a família ao parque. “O parque estava precisando desse respiro. Agora dá vontade de trazer a família”.
A Lagoa do Abaeté, com sua coloração escura característica e dunas ao redor, voltou a ser um dos pontos mais procurados, especialmente por turistas que aproveitaram o domingo para registrar fotos e conhecer o espaço. “Sempre ouvi falar da lagoa, mas nunca tinha vindo. É um lugar muito bonito e diferente de tudo que já vi”, disse José.
O secretário de Turismo da Bahia, Maurício Bacelar, acompanhou o evento e destacou o papel do espaço no turismo da capital. “O Parque Metropolitano do Abaeté é um investimento para o turismo da Bahia, e o governo sabe da importância econômica e social desse espaço. Cada ação de cuidado e revitalização aqui gera retorno para a comunidade e para quem visita”, afirmou. Representantes do trade turístico presentes avaliaram que iniciativas ligadas à cultura local ajudam a reforçar a atratividade do destino. “Quando a cultura local está presente, o turismo cresce de forma mais sólida”, comentou.
Criado em 1993 como Unidade de Conservação, o Parque Metropolitano do Abaeté surgiu da necessidade de proteger a área composta por lagoas, dunas e restingas de Itapuã, que enfrentava degradação ambiental, descarte irregular de resíduos e ocupações desordenadas. A partir da implementação do parque, o espaço passou a contar com normas de uso, áreas delimitadas para preservação e zonas de convivência abertas ao público. A importância do Abaeté, porém, antecede a própria criação da unidade ambiental. A lagoa é citada em canções, poemas, histórias populares e práticas religiosas, além de ter sido, especialmente nas décadas de 1980 e 1990, uma das imagens mais associadas à divulgação turística da Bahia.
Ao final do evento, a sensação geral era de retomada. Comerciantes, visitantes e moradores reconheceram que a revitalização e a presença da comunidade estão recolocando o Abaeté no cotidiano afetivo e turístico da cidade. Como resumiu a artesã Maria Dolores que participou da feira, “Quando o Abaeté está vivo, Itapuã inteiro se movimenta. É um espaço que faz parte da gente.”
O Viver o Abaeté – Encanto e Memória reforçou que a combinação entre cultura, preservação ambiental e participação das comunidades é essencial para manter o parque ativo, valorizado e presente tanto na vida dos moradores quanto na rota dos visitantes que chegam a Salvador.
História – A área que hoje compõe o Parque Metropolitano do Abaeté começou a ganhar relevância ainda no período colonial, quando a Lagoa do Abaeté passou a ser reconhecida como um espaço de valor simbólico, paisagístico e cultural para a formação de Salvador. Durante décadas, o entorno da lagoa abrigou comunidades tradicionais, pescadores, lavadeiras e famílias que moldaram a identidade de Itapuã. Ao longo do século XX, o crescimento urbano transformou a região, e o local passou a atrair visitantes pela combinação rara de dunas, águas escuras e vegetação nativa — elementos que ajudaram a consolidar o imaginário afetivo do bairro, sempre presente em músicas, versos e na própria memória dos soteropolitanos.
O parque, como unidade de conservação, só foi oficialmente criado em 1993, após mobilizações que buscavam proteger a área de pressões imobiliárias e ambientais. Desde então, o Abaeté passou a ser reconhecido como patrimônio natural da cidade, recebendo ações de preservação e, nos anos mais recentes, intervenções de revitalização promovidas pelo Governo do Estado, que reorganizaram espaços de convivência, acesso, segurança e equipamentos de lazer. As melhorias reforçaram seu papel como destino turístico e como referência cultural de Itapuã, mantendo viva a relação histórica entre a comunidade e a lagoa.







