Se não ocorrer em todas as campanhas eleitorais, em praticamente todas elas, encontramos relatos de um escândalo político que acabou por derrubar um candidato favorito. Basta apertar um pouquinho a mente e, certamente, você recordará de um caso. Na eleição ao governo da Bahia do ano passado, foi a autodeclaração racial de ACM Neto (União) que causou um grande alvoroço na corrida eleitoral. No entanto, o escândalo que poderia ter resultado em uma reviravolta no pleito foi o suposto assédio sexual cometido pelo hoje ex-deputado federal Marcelo Nilo (Republicanos).
A história é longa, mas vale muito lembrar. Senta que lá vem história! Depois de ser um dos homens-fortes do governo Jaques Wagner (PT), Marcelo Nilo, que fora presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) por 10 anos, viu gradualmente o poder escorregar de suas mãos durante a gestão de Rui Costa (PT). Sentindo-se isolado, insatisfeito e com pouca influência política, ele tomou a decisão de romper com a base petista e se juntar ao grupo liderado pelo oposicionista ACM Neto.
Mas antes, ativou a metralhadora giratória e disparou petardos contra os antigos líderes petistas aos quais chamou de “fraude”. Inicialmente, ele tinha a intenção de concorrer ao cargo de senador na chapa de ACM Neto. No entanto, esse plano foi por água abaixo quando o PP, presidido pelo então vice-governador da Bahia, João Leão, também quebrou a aliança política com a ala petista e se uniu à oposição. O partido ficou, então, com a vaga ao Senado. Nesse momento, Marcelo Nilo se mexeu e começou a se articular para se tornar o candidato a vice-governador. Foi nesse contexto que surgiu o suposto dossiê de assédio sexual envolvendo ele.
Na versão de Marcelo Nilo, o deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT), que é seu inimigo ferrenho, contratou cinco detetives e teria pago, segundo sempre Marcelo Nilo, R$200 mil para o jornalista Ramon Margiolle criar o escândalo sexual. De acordo com o ex-parlamentar do Republicanos, o seu adversário queria rifá-lo da chapa oposicionista. “Nunca existiu crime, na minha vida, de assédio sexual”, garantiu Nilo no MetroPod, o podcast de política da Rádio Metropole. Foi no programa que ele revelou os bastidores do suposto dossiê.
No Jornal da Cidade, da Rádio Metropole, Ramon Margiolle negou que tenha recebido R$ 200mil e refutou todas as acusações do ex-deputado federal. Disse que uma ex-assessora parlamentar o revelou, no ano passado, ter sido vítima de assédio sexual por parte de Marcelo Nilo. Segundo o jornalista, ele só não divulgou o caso, durante a campanha eleitoral, porque recebeu uma série de pedidos para manter em segredo o fato. “Além disso, a pessoa que deu entrevista ficou com medo de ir na delegacia prestar queixa e eu falei ‘se você não quer dar entrevista, não vou colocar sozinho”, contou Margiolle, que é editor do portal de notícias Informe Baiano.
Sem chapa e sem mandato
Nos bastidores da política, sempre houve especulações sobre a possibilidade de surgir alegações de assédio sexual envolvendo Marcelo Nilo durante a eleição, o que poderia potencialmente prejudicar a campanha de ACM Neto. Naquela época, o candidato do União Brasil minimizava a chance de que o escândalo viesse à tona na disputa eleitoral. Ele assegurava aos seus aliados que, se o caso se tornasse público, ele tomaria medidas para remover Nilo da candidatura a vice-governador, seguindo o exemplo de João Henrique e Fernando Henrique Cardoso, que substituíram seus respectivos candidatos a vice após denúncias nas campanhas de 1994 e 2004.
O certo é que Marcelo Nilo acabou excluído da chapa. Nos círculos políticos, comenta-se que foi uma decisão de ACM Neto, com temor de que o suposto escândalo o atrapalhasse. Nilo terminou o pleito sem ser senador, vice-governador e deputado federal. No MetroPod, demonstrou estar extremamente irritado com Félix e Ramon Margiolle, a quem mencionou 11 vezes no podcast. Félix ameaçou processá-lo por difamação, e Nilo também afirmou que tomará medidas legais contra o jornalista. Agora, tudo indica que o caso será resolvido nos tribunais.
Fonte: Metro1