O serviço de captação de córneas instalado nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), obteve o registro de 54 doações de córneas em 2023 nas unidades da capital baiana. As doações segundo registro da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) beneficiaram 108 pessoas que conseguiram voltar a enxergar após receberem a doação.
O novo número supera o total de procedimentos realizados durante o ano passado, quando somente 25 transplantes de córneas foram registrados.
Um dos casos de doação registrados na UPA foi o de Raimunda da Conceição Rocha, de 62 anos. Durante uma conversa informal com a filha Raulene Conceição, técnica de enfermagem, de 46 anos, Raimunda disse a Raulene antes de morrer que gostaria de se tornar doadora.
“Lembro que ela se interessou pelo assunto, começou a tirar dúvidas e se colocou à disposição para ajudar o próximo, melhorar a qualidade de vida de outras pessoas. Quando a assistente social da Upa San Martins me perguntou sobre a possibilidade, conversei com meus familiares e, dentro de um consenso, autorizamos a realização do procedimento após seu falecimento”, explica Raulene.
A trabalhadora da saúde afirmou que também é doadora de sangue e entende que é fundamental, tanto quanto doar, dialogar com quem convive com uma situação similar a dela, quando um ente querido está “próximo de partir”. “É muito clara a importância da valorização da vida através da doação e, ainda que seja só um órgão, é uma grande ação para quem recebe”, destacou.
Atualmente na Bahia, a fila de espera por uma córnea contabiliza mais de mil pessoas que aguardam em torno de 17 meses pelo tecido. Chama atenção ainda a taxa de negativa familiar, que é igual ou superior a 60%.
Considerando a importância do tema, a Secretaria Municipal da Saúde tem promovido uma série de sensibilizações junto aos profissionais das UPAs; como o alinhamento feito com o Banco de Olhos da Bahia com o objetivo de capacitar médicos, enfermeiros e assistentes sociais na abordagem sobre o tema junto a pacientes e familiares assistidos. Isso porque, para que ocorram as doações, são fundamentais a generosidade e solidariedade das pessoas, além do trabalho efetivo da equipe envolvida.
A vice-prefeita e secretária da saúde, Ana Paula Matos, destaca a importância da ação pioneira na rede municipal. “Essa nossa sensibilização serve para propagar informações sobre um programa tão importante já existente, mas sem ampla adesão. Apenas o familiar pode autorizar a retirada das córneas, mas muitos desconhecem o tema ou como proceder. Nosso objetivo, então, é destacar que a doação é um ato humanitário, um gesto nobre de amor ao próximo e aqueles que desejam se tornar um doador, podem se manifestar em vida. A adesão dos familiares também é de extrema importância para a doação”, pontuou.
SEM CUSTOS
A doação não acarreta nenhum gasto para a família do doador, bem como não interfere na estética do concessor para o funeral, de acordo com a tradição de cada família.
Os transplantes permitem que pessoas com alguma deficiência visual por problemas de córnea recuperem a visão. Durante um transplante de córnea, o botão (ou disco) central da córnea opacificada (embaçada) é trocado por um botão central de uma córnea saudável. Esta cirurgia pode recuperar a visão em mais de 90% dos casos de pessoas que têm alguma deficiência visual, por problemas de córnea.
Qualquer indivíduo entre 2 e 70 anos pode ser doador. Diante de uma notificação de potencial doador, será realizada uma triagem através de aplicação de questionário junto aos familiares, revisão de histórico médico e exames de sangue para definir se há alguma contraindicação à doação. Vale lembrar que as córneas podem ser preservadas por até 14 dias após a sua retirada.
Fonte: Bahia Notícias