Em Salvador e em todo o estado, ruas e avenidas se transformam em um desafio diário para motoristas e pedestres e exigem novas medidas do poder público. Esse cenário acompanha uma tendência nacional: aproximadamente um terço dos municípios do país já possui mais motos do que carros, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Na Bahia, que tem a terceira maior frota do país, nos últimos dez anos, o número de habilitados para conduzir motos cresceu 62,2%, ficando atrás apenas de Alagoas e Amazonas, com 86,3% e 79,7%, respectivamente.
Atualmente, o estado possui mais de 2 milhões de motocicletas registradas, sendo 219 mil apenas em Salvador, conforme levantamento recente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Entre janeiro e setembro deste ano, foram emplacadas 112.099 motos no estado, crescimento de 21,9% em relação ao mesmo período de 2024, sendo 15.990 unidades apenas na capital, alta de 24,8%. A região Nordeste como um todo registrou 362.433 vendas, cerca de 22% do total nacional.
O aumento da frota é impulsionado por fatores diversos: transporte público deficitário, praticidade como alternativa de mobilidade e a utilização das motos como fonte de renda por trabalhadores de aplicativos, entregadores e outros profissionais. Essa combinação explica o crescimento expressivo não apenas nas grandes cidades, mas também em municípios do interior, onde algumas já registram mais motos do que carros em circulação.
Acidentes – Com o aumento de motos, crescem também os acidentes. Segundo a Transalvador, as mortes de motociclistas representaram 44,5% das vítimas fatais em 2024. Entre janeiro e julho de 2025, 76% dos acidentes registrados envolveram motocicletas. Das 2.133 ocorrências, 1.628 resultaram em 74 mortes, em sua maioria homens jovens, entre 20 e 29 anos, trafegando em alta velocidade nas avenidas Afrânio Peixoto (Suburbana) e Luís Viana Filho (Paralela), especialmente à noite e aos domingos.
A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) acrescenta que, motociclistas, ciclistas e pedestres respondem por quase 80% das vítimas graves no trânsito no país. Em 2024, cerca de 150 mil motociclistas precisaram de internação, gerando custo superior a R$ 230 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Não se trata de fatalidade inevitável, mas de eventos que podem ser prevenidos”, reforça a Abramet, destacando a importância de educação, fiscalização e infraestrutura adequada.
Maria do Carmo de Oliveira, vendedora e moradora de Nazaré, relata os transtornos que pedestres passam. “Às vezes estamos atravessando da Avenida Sete para a Carlos Gomes, por alguns dos becos, e temos que desviar de motos que passam no meio dos pedestres. Parece que não temos mais espaço nas calçadas”.
Produção – Conforme a Abraciclo, a produção nacional manteve ritmo acelerado em 2025, com 1,496 milhão de motocicletas fabricadas nos nove primeiros meses do ano — o melhor resultado para o período em 14 anos, com crescimento de 11,5%. O modelo mais popular continua sendo o da categoria Street, que representou 50,6% do total, seguido pelas Trail (20,9%) e Motonetas (13,6%). As motocicletas de baixa cilindrada, mais acessíveis, respondem por quase 80% da produção, evidenciando a relação direta entre preço, praticidade e demanda.
“Estamos vivenciando um ciclo de crescimento consistente e sustentável. A motocicleta se firmou como uma alternativa eficiente, acessível e alinhada às novas necessidades de mobilidade da população brasileira”, afirma o presidente da Abraciclo
No varejo, os números também impressionam: 1,6 milhão de motocicletas foram licenciadas até setembro, alta de 14,4% em relação a 2024. O mês de setembro, com 205.918 unidades emplacadas, foi o melhor da série histórica desde 2011
Ainda segundo Abraciclo, a produção nacional de motocicletas concentra-se principalmente no Polo Industrial de Manaus, responsável por 98% da fabricação. No varejo, as vendas devem atingir 2,1 milhões de unidades em 2025, aumento de 11,9%.
Para muitos, a moto vai além do transporte. José Raimundo, mototaxista que atua em São Caetano há oito anos, afirma: que a moto vai para além do transporte. “O transporte é deficiente, a gente consegue trabalhar mais rápido, além de ser uma ferramenta de trabalho. Para muita gente é o sustento diário”, destacou.







